quarta-feira, outubro 31, 2007

Meditação e Budismo – Um Outro Mundo

Antes de qualquer coisa, se você está procurando informações sobre budismo ou meditação não leve nada que eu falar aqui em consideração. O que eu vou descrever aqui é, na verdade, uma mistura de conceitos de budismo com os meus pensamentos e não deve ser, de forma alguma, interpretada como fatos. Para quem estiver realmente interessado no assunto vale conferir também os blogs do Felipe, Ivan e Pato para pegar outras perspectivas. Os links pros blogs estão ai ao lado.


Antes de prosseguir deixa-me esclarecer um ponto. Mesmo se tratando de uma religião com sua fé, crendices e dogmas o budismo tem um lado racional e lógico muito forte. Esse lado é incentivado por todos os praticantes inclusive pelo Dalai Lama (esse seria o equivalente ao Papa pro budismo). Os ensinamentos são dados e os ouvintes são incentivados a não tomar a palavra dita como verdade absoluta, mas sim refletir e meditar sobre o assunto para tirar as próprias conclusões.

É nessa parte de pós ensinamento que entra a meditação. Os budistas acreditam que nós ocidentais perdemos grande parte daquilo que nos é ensinado por falta da meditação. De acordo com os budistas o aprendizado é dado em três etapas: ouvir, refletir e meditar. A meditação é de grande importância porque caso você seja um bom meditador você pode livrar sua mente de todas as distrações e focalizar em um só assunto e com isso chegar a conclusões mais profundas. O que faz bastante sentido, não?

Claro que se eu disser que não há apelo para a fé no budismo eu estaria mentido, afinal trata-se de uma religião, mas a grande base do budismo está em pensamentos racionais. Então quando eu me referir ao budismo eu estarei me referindo a essa parte racional, a parte que muitos ocidentais encaram como filosofia, e não a religião budista como um todo.

Só para levantar um pouco da curiosidade de vocês sobre o assunto. Uma das frases mais famosas do Dalai Lama é: “Minha religião é a bondade”. Difícil provar racionalmente que a religião desse cara é ruim...

Enfim, vamos entrar em assuntos mais práticos. O curso que fizemos era Introdução ao Budismo e a meditação, como já foi dito, é uma ferramenta indispensável que o budismo usa para atingir melhores resultados. As teorias do Budismo estão se espalhando rapidamente pelo mundo todo, foi dito durante o curso que o budismo é a religião que cresce mais rapidamente no ocidente e o número de livros sobre budismo em inglês é algo impressionante. Mas depois que você conhece um pouco sobre o assunto faz bastante sentido essas informações estarem se espalhando tão rapidamente.

Digo que faz sentido porque o budismo abre um novo mundo de informações que nós da civilização ocidental não tínhamos idéia da existência. Enquanto a nossa civilização, por milênios, buscava a evolução através da invenção de novas tecnologias os budistas procuravam a evolução através do conhecimento da mente. Quer dizer, enquanto nossos cientistas olhavam para fora em busca da evolução, em busca da explicação de fenômenos, em busca de conforto e felicidade os budistas olhavam para dento em busca das mesmas respostas. Com essa idéia na cabeça e em contato com algumas teorias iniciais do budismo não tem como não ter certo respeito e curiosidade pelo assunto.

Mas não me entenda mal. Quando o papo fica mais religioso e menos racional, por exemplo quando se começa a falar de karma e reencarnação, esse respeito muda. Os budistas dizem que é porque você não está tão mentalmente desenvolvido ainda e por isso esses assuntos não te parecem racionais, mas eu prefiro acreditar que são apenas crendices religiosas.

Desenvolvendo um pouco o raciocínio budista e algumas idéias que eu criei durante o curso o raciocínio lógico básico seria, mais ou menos, o seguinte:


Princípios:

1) Todos os seres vivos querem ser felizes e não querem sofrer.

2) Tudo é impermanente.

3) Todos os seres vivos têm a capacidade de ser feliz.

Conclusões:

1) Analisando o princípio 1 e 2: Se todos os seres vivos querem ser felizes e não querem sofrer e na vida tudo é impermanente a felicidade deve estar na forma como cada indivíduo vê as coisas e não nas coisas em si.

Exemplo 1: Se você considera que a sua felicidade está em jogar futebol com os seus amigos no fim de semana, no momento que você sofrer um acidente e não puder mais jogar futebol você não será mais feliz.

Exemplo 2: Se você considera que a sua felicidade está no seu dinheiro a partir do momento que você, por um motivo qualquer, perdê-lo você também perderá a sua felicidade.

Explicação: Um dos sentimentos que o budismo combate é o apego. O fato de se apegar as coisas/pessoas pode te trazer sofrimento e o apego não é necessário para te trazer felicidade. Nietzsche disse “O que não mata, fortalece” o que é uma verdade. O fato de superar um sofrimento te deixa mais forte e experiente, mas quem disse que era necessário sofrer?

O pensamento budista mostra que se você conseguir enxergar as coisas sem apego (o que não é nada fácil) não haverá razão para sentir tristeza quando essas coisas se acabarem. Por exemplo, se você conseguir condicionar a sua mente a perceber que na verdade você gostava era de estar com os seus amigos e não do futebol em si você poderá continuar sendo feliz fazendo outras atividades com seus amigos. Simples bom senso, né?

2) Analisando o princípio 1 e 3: Se todos os seres vivos querem ser felizes e não querem sofrer e todos tem a capacidade de fazê-lo então não faz sentido a felicidade de um estar acima da do outro.

Exemplo: Palavras do Dalai Lama: “Se você quer ser egoísta seja um egoísta sábio. Dedique-se para o bem dos outros”. Ele desenvolve o raciocínio, mas eu não lembro com exatidão então prefiro não arriscar. Mas a mensagem final que ele quer passar é a de que quando você faz algo que traz felicidade para uma pessoa você também se sente feliz e essa pessoa vai ter uma tendência natural em querer retribuir (na maior parte dos casos). Ou seja, com uma ação genuinamente não egoísta você terá pelo menos dois momentos de felicidade, enquanto que com uma ação egoísta você terá no máximo somente um momento de felicidade e possivelmente alguns momentos de infelicidade, caso além de egoísta a ação seja também maldosa com outra pessoa.

Conclusão: A compaixão é um sentimento que deve ser cultivado de acordo com o raciocínio budista. Ela deve ser vista, genuinamente, como uma forma de ajudar os outros, mas no fim das contas a compaixão também servirá para te ajudar. Parece fazer sentido, certo?


Os princípios, as análises e as conclusões acima tentam de forma lógica atacar o ego. A percepção natural de que temos nossas habilidades para uso próprio é inexistente num estágio avançado de budismo. Essa percepção é, na verdade, a raiz mais profunda dos problemas. Sem essa percepção qualquer tipo de problema, por mais complicado que seja, será apenas um pequeno problema.

Como ponto final de análise o budismo coloca a falta de realidade absoluta. Tudo que vemos, sentimos, tocamos e por ai vai não é a realidade em si, mas sim a interpretação que a nossa mente tem da realidade. Ou seja, tudo que vimos é influenciado pelo o que a nossa mente nos mostra. Se você tem certo controle da mente é possível chegar cada vez mais perto da realidade em si, mas se você não se preocupa de forma alguma em controlar o que a sua mente te mostra você se distanciará cada vez mais da realidade. Um exemplo simples disso seria uma pessoa com depressão. O controle que essa pessoa exerce sobre a própria mente é tão pequeno que a interpretação que a mente tem da realidade é deturbada de uma forma que uma pessoa oferecendo ajuda pode se tornar um otário que não liga para o seu sofrimento.

Numa analogia mais simples de entender. Todos estaríamos sempre usando óculos mesmo tendo vistas perfeitas. À medida que você for percebendo que as coisas ao seu redor não são exatamente como você as vê, mas sim uma mistura entre a influência dos óculos e da sua visão você poderá ir diminuindo o grau dos seus óculos e enxergar a realidade mais perfeitamente.

O budismo diz que quanto mais raiva, apego e ego você tiver mais forte serão as lentes dos seus óculos. Em contrapartida, quanto mais felicidade, compaixão e sabedoria você tiver maior será a sua facilidade em perceber como as coisas realmente são.

Eu sei que com a analogia a idéia perde um pouco da sua complexidade e muito do seu valor. Para aqueles que queiram entender mais a fundo, e sem o uso de analogias, o que eu estou tentando dizer sobre essa inexistência de realidade absoluta, ou como diz o budismo “falta de existência inerente”, eu recomendo muito estudo e meditação. Afinal, conhecimento, entendimento e sabedoria sempre ajudam, e se alguém for bem entendido no assunto, por favor, me explica depois :-).

Sei que tudo isso parece meio (ou bem) viajado, mas quando você está meditando essas coisas vem na sua cabeça e fazem tanto sentido que é difícil contrariar. Mas eu imagino que para quem está lendo não faz tanto sentido. Eu diria que isso é o tipo de coisa que não adianta falar, você tem que chegar na conclusão por si só (pra quê mesmo que eu falei isso tudo então?)


Só agora eu percebi que eu mal comecei a escrever sobre o assunto e já tem mais de três páginas, então eu vou parar por aqui senão ninguém vai ter paciência de ler. Acabei não escrevendo nada sobre o silêncio nem sobre as idéias malucas que passaram pela minha cabeça. Quem sabe nos próximos posts...

Para aqueles que se interessam pelo assunto eu recomendaria procurar mais informações em livros. Existem várias publicações sobre budismo em inglês e acredito que também devam existir várias em português. Se alguém quiser pode mandar perguntas por e-mail ou colocar algum comentário que eu ficarei feliz em responder (caso eu saiba a resposta).

5 comentários:

pato disse...

Eu recomendo:
Words of my perfect teacher
bem bom...

enfim, eh uma viagem danada... mas eh uma muito boa...

Clarissa Viana disse...

Eu adorei as perspectivas de cada um de voces sobre o Budismo... fiz um trabalho analisando as ruínas de Angkor e tive que ler um pouco!
Muito massa!

Ah, e adorei o poeminha de voces...

Clarissa Viana disse...

ATUALIZAAAAAAAAAA!!!!
Pára de tomar sol na praia de mar de tang azul e photoshop e vem me contar o que voces andam aprontando...
hehehehehehe

(jornalista folgada, não?!?!)

Beijo!

Carla Zorzanelli disse...

Nossa, pelo contrário...achei que faz muitoooo sentido tudo o que vc falou...gostaria de conversar mais a respeito depois...concordo com mta coisa...E nossa, mtooo legal as idéias...gostei bastante!
beijaozaooo

Carla Zorzanelli disse...

SUMIU^?!?!?!?
Dê noticias!
beijus