quarta-feira, outubro 24, 2007

Egito

Mal chegamos no Egito já tivemos uma recepção que não deixou dúvidas que estávamos num país pobre. Depois de passar pela imigração e pegar as malas, entramos no saguão principal do aeroporto e um mundo de taxistas começou a nos abordar. Como a gente tinha lido no guia de viagem que muitas vezes essas taxistas aplicam golpes nos pobres (ou seriam ricos) turistas inocentes a gente decidiu usar o serviço de táxi do aeroporto. Isso tudo porque era pra ter alguém do nosso hotel esperando pra buscar a gente, mas esse alguém simplesmente esqueceu...

Saindo do aeroporto começou a aventura pelo trânsito da cidade. As linhas que marcam as faixas de cada carro são meros enfeites, ninguém respeita. Numa rua que teriam duas faixas, você vê três carros lado a lado e um quarto esperando para dar o bote se algum desses der bobeira. Não existe cordialidade nenhuma no transito, fechadas são autorizadas, basta buzinar antes e torcer pro cara de trás frear. Falando em buzina, ela serve pra tudo, realmente tudo. Você vê um carro na sua frente que possivelmente pode te fechar, buzina! Você vê um carro que possivelmente vai frear, buzina! Você quer colocar o seu carro entre dois carros mas não cabe nem metade, buzina! Você quer reclamar de uma manobra qualquer, buzina! Ou seja, dá pra imaginar o único som que você ouve nas ruas do Egito. Pra aumentar a bagunça do trânsito eles não respeitam muito os semáforos. Pra resolver esse problema no centro da cidade onde o trânsito é mais pesado os semáforos não funcionam mais e a cada esquina tem um guardinha pra controlar o trânsito.

Apenas algumas horas nesse país e já deu pra perceber, pela falta de estrutura e pela bagunça, que a gente tava num país beeem pobre. Mas a gente não tinha idéia do quê esperar, depois de tanto tempo de Europa a gente ficou mal acostumado.

Estando no Egito não poderíamos deixar de conhecer as pirâmides então fechamos logo uma van com o hotel pra levar a gente nos principais pontos turísticos da região. Paramos em vários lugares, inclusive um museu bem arrumadinho, mas as pirâmides com certeza eram a atração do dia. As pirâmides são gigantescas e imponentes, inimaginável pensar que elas foram feitas a mais de 4000 mil anos atrás. Mas ao mesmo tempo eu não fiquei tão empolgado com aquilo tudo quanto eu fico com umas paisagens naturais iradas.

No dia da visita às pirâmides eu achei que não tinha gostado tanto delas porque elas não eram lá essas coisas, mas o problema não eram elas e sim o ambiente em volta. Logo que chegamos dezenas de ambulantes vieram oferecer água, paninho de não sei o quê, passeio de camelo, e por ai vai. O problema é que eles não largavam do seu pé! E isso, junto com o calor infernal de uma da tarde do Egito, não me deixou apreciar muito bem as famosas pirâmides. Pra falar a verdade eu queria mais era me livrar dos ambulantes chatos e do calor do que admirar as pirâmides. Bem diferente de chegar no topo de uma montanha, sentar embaixo de uma arvore e admirar a paisagem. Ou de sentar no parque em frente a Torre Eifel e esperar o sol se pôr...

Enfim, deixando a análise das pirâmides e o impacto, ou falta de impacto, que elas causaram de lado vamos seguir.

Depois de conhecer os principais pontos turísticos dos arredores de Cairo era a hora de ir para Luxor, cidade que foi capital do Egito Antigo por um bom tempo.

Desembarcamos do trem e, para nossa surpresa, centenas de ambulantes vieram oferecer hotel. Como já tínhamos um em mente decidimos ir caminhando até lá por conta própria, mas o nosso mapa não era muito bom a gente obviamente se perdeu. Pra ajudar a gente a se perder tinham dois locais que não desistiam nunca de oferecer o hotel deles e de indicar vários caminhos estranhos a cada esquina que a gente passava. A galera já tava perdendo a paciência com esses locais, e os locais com a gente, e eu já tava vendo a hora que ia sair uma confusão. Felizmente não rolou confusão nenhuma e a gente cansou de procurar o nosso hotel e entrou no primeiro que parecia seguro o suficiente.

No primeiro dia em Luxor decidimos fazer um programa mais relax. Arrumamos uma Feluca, os barquinhos a vela que ficam navegando pelo Rio Nilo, com um “Capitão”, que não fazia nada, e um aprendiz de Capitão, esse sim trabalhava. Pegamos a Feluca umas 3 da tarde e partimos pra um passeio de pouco mais de duas horas pelo Nilo pra ver o por do sol. Esquema bem simples mas bem maneiro.

Com a mente mais relaxada partimos pro turismo por Luxor prontos pra ouvir tudo e mais um pouco dos locais que não deixam nenhum turista e paz. Fechamos de novo um pacote com o hotel e saímos pingando em praticamente todos os pontos turísticos da região. Tem muita coisa famosa e com certeza para arqueólogos e historiadores deve ser muito interessante, mas infelizmente o estado de conservação não é dos melhores. Tudo é meio largado como se não tivesse o menor valor e qualquer um pode destruir e ninguém não vai nem perceber. Em vários lugares não pode tirar fotos, não é bom para a conservação dos hieróglifos, mas não tem ninguém vigiando a não ser uns locais que chegam para você e falam que se você colocar cinquentinha na mão deles eles não vão falar nada pra ninguém.

Visitamos vários lugares e dois que mais chamaram a minha atenção foi o Templo de Karnak e o Museu de Luxor. O museu é algo totalmente à parte das outras coisas no Egito, com certeza deve ser mantido e administrado por estrangeiros porque é tudo muito bem organizado. O museu como um todo já é muito bom, mas não dá pra esconder que a atração principal fica por conta de duas múmias muito bem conservadas. Pra quem nunca viu uma múmia é algo meio difícil de explicar. Mesmo com mais de 3000 anos o corpo ainda tem pele, a pele escurece e dá pra perceber que não é um tecido vivo mas, ao mesmo tempo, não é simplesmente um esqueleto. Apenas algumas partes do corpo são exibidas e o pé, pra mim, foi uma das mais impressionantes. Esse parecia vivo, ainda tinha unha e também tinha o formato perfeito de um pé. Incrível.

O templo de Karnak é inimaginavelmente grande. Hoje ele está praticamente todo a céu aberto, mas na época do Egito antigo ele era coberto em algumas partes. Existe inclusive uma sala que era coberta na antiguidade que é maior do que uma Basílica de Londres e outra da Itália juntas (infelizmente não lembro o nome das duas basílicas, mas sei que eram grandes). Tudo bem que nessa sala tem tanta pilastra pra sustentar o teto que fica difícil ter uma noção exata da imensidão, mas dá pra estender né. Só de eles conseguirem fazer algo tão imenso naquela época já é impressionante, também não dá pra exigir vãos imensos quando eles só usavam pedras.

Feita a visita a Luxor era hora de voltar pro Cairo, pegar o nosso visto da Índia e visitar o Museu do Egito. Mesmo desafiando todos os prazos o nosso visto da Índia ficou pronto em tempo recorde, graças a atenção e a ajuda dada pela mulherzinha da embaixada. Com o visto na mão não tínhamos mais nenhuma preocupação e podíamos ir em paz, ou quase porque os locais e o transito não ajudam muito a paz do local, visitar o Museu do Egito. Esse museu não tem nada a ver com o de Luxor, é tudo largado e pronto. Mas só porque é tudo desorganizado não quer dizer que não tenha peças importantes. Tem uma sala só com múmias, mas como tinha que pagar extra pra entrar nessa sala e como a gente já tinha visto duas múmias muito bem conservadas em Luxor decidimos não entrar nessa parte. Outra ala que inegavelmente é a atração principal do museu é a sala com as principais riquezas encontradas na tumba de Tutankhamen. Lá tem uma máscara com nada menos de 11 kilos de outro maciço, essa máscara ficava sobre a cabeça da múmia. Daí essa múmia com a máscara ficava dentro de um sarcófago de ouro, que por sua vez ficava dentro de um sarcófago de madeira folheado a ouro, que ficava dentro de um sarcófago de madeira trabalhada. Tudo isso e mais várias jóias e obras de arte dentro dessa pequena sala. Dá pra ter uma boa noção da absurda riqueza em que viviam os faraós do Egito antigo.

Ah, quase esqueci de falar. Durante todo esse período que estávamos no Egito era Ramadã, mês em que os mulçumanos só podem comer antes do sol nascer ou depois do sol se por. Então quando dava 6 da tarde a cidade parava, realmente parava! O transito no centro da cidade que era uma loucura deixava de existir, não passava um carro e dava pra andar pelo meio da rua na maior paz (nosso único momento de paz durante o dia).

Então, acho que é isso. Sobrevivemos a nossa aventura pelo Egito e partimos para África do Sul. Mas isso é assunto pros próximos posts...

2 comentários:

Carla Zorzanelli disse...

Nossa, que incrível...
Agora queria tanto saber como que foram os 10 dias de meditação...
Conta logo vai...hehehehe
beijaozao saudades

Anônimo disse...

Oie Ricardo!

Eu estou fazendo intercâmbio na Europa e quero muito conhecer o Egito. Você precisou de visto para entrar?

Eu tenho um visto de residencia de Portugal e pra viajar na uniao europeia ele vale, serah que facilitaria a entrada no Egito?

Você pode me dar umas dicas?

Meu email é kalinefurlan@yahoo.com.br

Beijao!