A Odisséia do Foxwoods

A intenção era ter tudo muito bem planejado para essa viagem e tudo com bastante antecedência para não ter muitas surpresas, mas, como já era de se esperar, não foi muito bem isso que ocorreu. Alguns dos Mochileiros Atromelados conseguiram se preparar um pouco mais e outros um pouco menos (ou quase nada), mas no fim das contas ninguém se preparou como gostaria, muita coisa ficou pra última hora e muita coisa nem se quer foi feita (como, por exemplo, a atualização desse blog).

Mas mesmo não se preparando muitas coisas aconteceram que merecem fazer parte da história da viagem. Eu vou dividi-las em alguns posts pra não ficar gigantesco demais porque senão ninguém lê (e nem eu tenho paciência de escrever tudo de uma vez).

Beleza, chega de enrolação. Vamos a primeira etapa da viagem: conseguir o emprego! O plano era ir pro Foxwoods Casino, como eu fiz há dois anos atrás, e pelo que tudo indicava isso não seria um grande problema.

Marcelão, Pato e eu no Foxwoods há dois anos atrás.

Acontece que se for muito fácil não tem graça, então alguma coisa fora do normal tinha que acontecer. E aconteceu. Eu tinha que pegar o ônibus para Curitiba na noite do dia anterior à entrevista de emprego do Foxwoods para chegar lá de manhã cedinho e não ter risco de perder o emprego. Mas eis que a sorte bate a minha porta.

Ocorreu uma sucessão de desastres. Pra começar eu fico doente no dia da viagem – tava rolando uma virose estranha lá no alojamento do ITA e eu acabei pegando. Durante esse dia todo eu perdi as contas de quantas vezes eu fui ao banheiro e minutos antes de viajar eu tava me sentindo muito mal e acabei vomitando no banheiro do alojamento. Pensei em desistir, mas rapidinho eu lembrei que eu não sou disso. Retomei a minha disposição e fui me arrumar pra ir viajar.

Pedi pro Bereba – meu companheiro de quarto e brotherzasso – me levar na rodoviária para eu pegar o ônibus das 21:30 para São Paulo porque de São Paulo eu pegaria o ônibus pra Curitiba às 23:30. Como normalmente o ônibus pra Sampa demora 1 hora e 20 minutos (sem trânsito) era pra dar tudo certo.

Acontece que a gente saiu do alojamento bem em cima da hora e eu cheguei à rodoviária exatamente às 21:28. Ainda passando mal fui correndo até o guichê pra comprar a passagem e descobri que não existia ônibus as 21:30. Até as 9 os ônibus saiam de meia em meia hora e depois das nove eles saiam de hora em hora, ou seja, o próximo ônibus sairia as 22:00. Comprei o ticket pras 10 e fiquei esperando.

Finalmente embarquei no ônibus para a Rodoviária do Tietê e consegui até dormir um pouco no caminho. Chegando em Sampa eu levantei para sair do ônibus e durante a espera para sair do ônibus comecei a me sentir mal de novo (já tá ficando nojenta essa história). Saindo do ônibus eu olhei o relógio, eram 23:22 e eu ainda tinha que ir ao guichê da Itapemirim emitir o bilhete do ônibus porque eu o havia comprado pela internet.

Tentei esboçar uma corrida, mas não durou dois passos... vomitei no meio da rodoviária. Avistei o cara responsável por limpar a rodoviária e achei que ele ia ficar puto comigo, mas, na verdade, ele foi muito gente boa e perguntou se eu precisava de uma ambulância (eu devia estar com uma cara de acabado mesmo) e abriu um banheiro que estava fechado pra mim. Fui no banheiro, lavei a boca, tomei uma água e olhei a hora, 23:27, pensei em desistir de novo mas eu não tinha chegado tão longe por nada!

Estava me sentindo melhor, saí do banheiro correndo e agradeci a ajuda do faxineiro. Cheguei no guichê da Itapemirim atrasado, mas o cara que me atendeu também foi muito gente boa e ligou pra plataforma pedindo pro ônibus me esperar. Enfim, embarquei pra Curitiba.

Dormi a viagem inteira. Cheguei na rodoviária e peguei um táxi pro hotel onde seria a entrevista. Cheguei lá as 5:30 da manhã e a parada só ia começar as 9:00. Nessa hora bateu uma fome e eu lembrei que eu não comia há mais de 24 horas. Até tinha um café da manhã de graça pra quem ia fazer a entrevista, eu tentei comer mas ainda tava me sentindo muito mal e meu estômago não aceitou.

Todo esse sacrifício pra ir trabalhar aí.

Às 9 e alguma coisa entrou na sala Jason, Magic e compania. Eles fizeram a tradicional palestra deles e depois aplicaram o testinho de matemática. Tudo nos conformes, agora era só esperar ser chamado para entrevista oral. Ainda estava indo no banheiro constantemente e tudo que eu queria era que a entrevista fosse rápida, e foi. Eu entrei pra ser entrevistado e já na minha primeira resposta eu falei que já tinha trabalhado no Fox. A mulher com uma voz fina prontamente fez algumas perguntas sobre o trabalho que eu fiz, meu supervisor, etc. Eu respondi tudo e com 2 minutos de entrevista ela levantou e disse: “You are all set. If you did a good job at Foxwoods you will be hired again”. Eu levantei, apertei a mão dela, agradeci e despedi com um sorriso de uma orelha a outra. Eu fui um funcionário exemplar, enquanto um monte de gente fazia merda eu trabalhava direitinho chegando sempre na hora e fazendo hora extra sempre que eles precisavam. Nessa hora eu pensei: “Valeu todo o sacrifício!”.

Para minha surpresa duas semanas depois saiu o resultado e eu não passei. Fui me informar e parece que um ano depois que eu fui pra lá (no ano que eu estava na Nova Zelândia) alguns brasileiros foram seguranças e fizeram muita merda e daí o departamento de segurança recomendou não recontratar seguranças sem sequer analisar caso a caso.

Primeira Moral da História: só porque você se sacrificou por alguma coisa isso não quer dizer que você vai conseguir, ou que você tem mais direito de conseguir algo. Mas pelos menos você pode dormir tranqüilo sabendo que você fez o seu melhor e não ficar remoendo o arrependimento de ter desistido.

Segunda Moral da História: é incrível como uma pessoa pode afetar a vida de outras sem sequer perceber. Eu só consegui chegar na entrevista porque um amigo, um faxineiro e um operador de ônibus me ajudaram. Mas pra compensar eu perdi o emprego porque um brasileiro inconseqüente fez merda e queimou o filme dos brasileiros no Foxwoods.

Ficou muito maior do que eu esperava então no próximo post eu coloco como eu finalmente consegui o meu emprego e o resto da preparação para a viagem.